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Subject: Re: No país da cunha e do clientelismo


Author:
Perguntador inocente
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Date Posted: 18/03/07 4:24:50
In reply to: São José Almeida 's message, "No país da cunha e do clientelismo" on 26/02/07 19:59:40

Mas pode haver honestidade no modo de produçao capitalista?
Nao e' o sistema intrinsecamente desonesto?
Existe algum pais capitalista em que impere a honestidade?
E se/quando existisse tal pais estariam resolvidos todos os problemas dos seus habitantes?
Sera' que uma analise moralista substitui a analise das relaçoes entre as classes sociais?
Sera' que a acumulaçao primitiva nao foi um roubo?
O caminho para ascender aas classes dominantes nao e' tambem roubar?
Pode haver uma primeira geraçao de ricos sem que haja nisso algo de muito obscuro?
Equiparar a pequena corrupçao com a dos banqueiros e magnatas nao sera' branquear esta ultima?
Sera' que a dita agencia anti-corrupçao lavaria mais branco?


>De acordo com o estudo divulgado pelo público, em
>portugal a corrupção só é considerada como tal quando
>envolve suborno, isto é, quando envolve dinheiro,
>situação já hoje penalizada. Há uma mentalidade
>generalizada que é permissiva a actos de corrupção
>como a cunha, o amiguismo, o nepotismo, o
>favorecimento, o clientelismo, o conflito de
>interesses.
>
>Este é talvez o dado mais significativo para perceber
>o momento que se vive, no que se refere ao combate à
>corrupção, porque é este fundo mental, esta falta de
>cultura ética da população, que, por sua vez, torna
>possível o pântano em que o país se tornou, no que se
>refere à não existência de uma cultura de rigor e de
>valores. É este clima que permite que os responsáveis
>pela criação de meios para combater a corrupção
>continuem a empurrar com a barriga a adopção de
>medidas claras que criem um novo funcionamento das
>relações entre o estado e os privados, de modo a que
>este seja igual para todos e em que não haja quem seja
>indevidamente beneficiado.
>
>É interessante perceber como os inquiridos têm, por
>outro lado, consciência de que o que importa é a
>preservação do aparelho do estado e defendem, por
>exemplo, o afastamento dos corruptos dos cargos.
>Também é relevante o facto de quase metade dos
>inquiridos ser a favor da criação de uma agência
>anticorrupção, o mesmo tipo de organismo estatal que
>joão cravinho propunha, ao querer uma comissão de
>fiscalização e coordenação do combate e prevenção da
>corrupção a funcionar na dependência da ar, assumindo
>esta os seus poderes de fiscalização.
>
>Uma proposta que os deputados socialistas primeiro
>deitaram fora e, depois, recuperaram sob a forma de um
>observatório, que, como o nome indica, apenas observa
>- ignorando até que já existe um observatório no
>iscte, que funciona mal, por que não tem verbas nem
>meios, o que é revelador do interesse do estado em
>combater a corrupção.
>
>Daí que o tom de indignação com que o investigador
>Luís de Sousa reage a esta proposta dos deputados seja
>o tom daqueles que seguem com alguma atenção estas
>questões. é estranho que os deputados dêem de si mesmo
>uma imagem tão negligente. não só porque revelam não
>ter feito um levantamento do que já há.
>
>Mas a indignação é tanto maior quanto esta proposta
>demonstra a pouca importância que as direcções
>partidárias dão a este combate, o que é confirmado,
>aliás, no estudo.
>pelo caminho, maioria e oposição esquartejaram e
>aproveitaram, para fins de política imediatista e
>mediática, as propostas de cravinho. passada a fase da
>ópera bufa, o país vai continuar a ver desfilar o
>carnaval da corrupção.
>
>O observatório do ISCTE vai continuar a rapar uns
>trocos. os directórios partidários vão manter a cabeça
>enterrada na areia. os cidadãos vão continuar a
>considerar que o combate à corrupção é ineficaz e a
>não perceber bem o que é de facto este fenómeno.
>portugal permanecerá o país da cunha e do
>clientelismo. cravinho será olhado com desdém nos
>bastidores e cinicamente louvado no discurso oficial.
>daqui a uns anos, todos irão proclamar, batendo no
>peito, a importância de medidas que agora desdenham,
>como a da criminalização do enriquecimento ilícito.
>nem que seja, então, por ordem de uma directiva
>comunitária.

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Replies:
Subject Author Date
A dupla exploraçãoRespondedor inocente18/03/07 9:02:09
Re: No país da cunha e do clientelismoRespondedor farto "deles"18/03/07 20:44:17


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