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Subject: Barroso e Maquiavel


Author:
Duarte Lima
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Date Posted: 10:17:46 06/01/02 Sat

DECORRERAM menos de dois meses sobre o início da nova governação e o país está lançado num estranho clima de agitação e depressão. É indiscutível que Barroso carregou de negro as tintas da dramatização, para criar condições de aceitabilidade social das reformas difíceis que é necessário promover. O caminho seguido é errado, por três razões diferentes.

A primeira é porque ele dá mais importância à imagem do que à acção política. Barroso quer criar uma imagem de político «obreirista», que seja a antítese do «diálogo guterrista», que não decidia. E esta obsessão pela imagem tem redundado em decisões apressadas, mal preparadas e pior explicadas. Fica-se com a sensação de que, nalgumas áreas que têm sido objecto de maior polémica nas últimas semanas, o Governo sabe o que quer mas não sabe como lá chegar.

A segunda razão é porque a agitação provocada por essas decisões - RTP, Função Pública - tem criado uma cortina de fumo que impede de ver a acção meritória que parece desenhar-se nalgumas áreas da governação, com destaque para a segurança social, a educação, a saúde e a política externa. A terceira razão é a mais importante e tem que ver com a esperança.

Os factores materiais, nomeadamente as condicionantes económico-financeiras, são determinantes na condução da política, porque «casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão». Mas não se pode esquecer que as sociedades, enquanto entidades que se perpetuam no tempo, são constituídas de um fino tecido que se entretece entre as gerações e que as liga numa ideia de projecto de vida a construir.

O que sustenta uma sociedade é a capacidade de se congregar em torno de uma ideia comum de esperança afirmando uma vontade constante de superação das dificuldades. Esse discurso de esperança ainda não foi feito pelo Governo.

Nos últimos dias, tem sido dito na imprensa que Barroso segue o conselho de Maquiavel, que manda fazer o mal todo de uma vez, para depois fazer o bem aos bocadinhos.

Eu sei que a leitura de Maquiavel deve fazer parte da educação de qualquer homem de Estado. Mas a história dá-nos exemplos terríveis de políticos que acabaram da pior maneira por seguirem à letra o caminho de Maquiavel. Era preferível que Barroso seguisse o caminho de Sherezade, a narradora das Mil e Uma Noites.

Para não ser degolada pelo rei Shariar, Sherezade tinha que contar-lhe todas as noites uma história, que era interrompida ao amanhecer. Mas, ao nascer do dia, essa história tinha continuação numa outra história, cuja narração continuava na noite seguinte, prolongando-se até um novo amanhecer, e assim sucessivamente, sem nunca chegar ao fim. Esta «história interminável» foi a estratégia da astuta Sherezade para prolongar a sua vida por «mil e uma noites», sendo que «mil e uma» não tem aqui o significado literal e numérico, mas sim o de «tempo longo».

Contar uma história era, para Sherezade, uma forma de alargar o horizonte da sua vida. A esperança é isso: um horizonte que se estende à frente dos nossos olhos.

Ora o que Barroso necessita é também de contar a sua «história», justificando em nome de que futuro devem os portugueses sacrificar-se hoje. Porque, como escreveu Karen Blixen, «todas as dores podem ser suportadas se as transformarmos em história ou se contarmos uma história sobre elas». Mas uma história de esperança e não uma história de desespero.

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