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Subject: O Digitalismo e o trabalho "produtivo" e "improdutivo" | |
Author: Guilherme Statter |
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Date Posted: 15/02/06 20:09:42 Ainda a propósito da realidade à procura de uns teóricos, lembrei-me de vir aqui dar mais uns palpites... Assim como assim, sempre é capaz de causar alguma irritação – o que é saudável – e pode ser que contribua para alguns dos ocasionais visitantes se tentarem a botar faladura. Devo dizer que quando escrevi aqui – num palpite anterior – que as mais-valias mais do que escorregadias por vezes até se evaporavam, até estava a pensar no trabalho do Penim Redondo sobre o Digitalismo. E isto porque - quanto a mim - uma das coisas que faz a digitalização de tudo e mais alguma coisa é como que uma desvalorizaçáo súbita e (quase) permanente de muitas e múltiplas mais-valias anteriormente produzidas. Mas não metamorfoseadas em "dinheiro". Ao contrário do que dizia o Redondo na sua primeira mensagem a este respeito, teríamos aqui um exemplo do pensamento de Marx (ou o marxismo) aplicado ao Digitalismo. Mas isto tem várias ramificações relativas ao pensamento "idealizado" de Marx sobre um sistema de produção e distribuição de riqueza (valores-de-uso) e a comparação implícita que Marx parece fazer ao longo da sua obra entre o capitalismo que efectivamente lhe era dado observar e um sistema "ideal", onde não houvesse desordem nem desperdício. Mas vejamos então uma relação entre o "digitalismo" do Penim Redondo e a análise do "capitalismo" de Marx: Quando Marx considera que as actividades (e respectivos custos) de "comerciantes" são "faux frais" de produção (ou o que os anglo-americanos chamam "overheads", ou em Português "custos gerais de exploração" do processo global de produção capitalista, parece estar a presumir a existência algures no tempo de um sistema social de produção e distribuição de riqueza (sob a forma de valores-de-uso), ou funcionando esse "sistema" pelo menos como "termo de referência" ou de comparação com o sistema real que lhe era dado observar, sistema esse em que será total, perfeita, completa e absoluta a "harmonia e sincronização" de todas as actividades produtivas (incluindo-se aí a distribuição na perspectiva do transporte de bens e da prestação de serviços). A essa absoluta, total e completamente perfeita sincronização de actividades de todos os processos produtivos, e de todos entre si, deveria ainda acrescentar-se uma total, absoluta e completamente perfeita sincronização de todos os consumos. Tudo isso implicando, como é natural, um acesso à Informação rigorosamente igual por parte de todos os agentes participantes de todos os processos de produção, circulação e consumo. Em suma, a UTOPIA. E então, em relação a esse "universo utópico" ou idealizado, temos que Marx podia assim classificar como "não produtivas" as actividades de registo e contabilidade assim como as actividades de negociação e venda dos bens "que já foram produzidos" (e portanto não se lhes acrescenta qualquer valor...). Primeiro aspecto a assinalar: o "digitalismo" vai permitindo integrar cada vez mais as actividades de registo e contabilidade (de tudo e mais alguma coisa), assim como de "encomenda e negociação" nos próprios processo de produção "produtivos" (sem piada). Entretanto é pelo menos insólito que se possa assinalar em Marx um método analítico claramente dicotómico (e logo nos antípodas do método dialéctico): "uma actividade ou é produtiva ou é improdutiva". Se considerarmos que a obra "Das Kapital" é toda para discutir um determinado Modo de Produção concreto e existente, penso que seria muito mais "produtivo" (sem piada...), em vez de considerar "não produtivas" (ou "improdutivas") as actividades do "comerciante", ("An illusion is introduced here by the function of merchant’s capital" - Página 209 do Volume 2 do Capital – Capítulo 6 "The Costs of Circulation") considerar antes uma abordagem de medida da "produtividade do factor 'trabalho vivo'" do estilo "numa escala de 0 a 10, a actividade A do processo Z é produtiva no grau 10 enquanto que a actividade B do processo Y é produtiva no grau 3" (por exemplo). Tudo isto - esta metodologia - relativamente ao objectivo central do Modo de Produção capitalista, ou seja a produção de mais-valia e acumulação de capital. Por outras palavras, no sistema capitalista que temos (e já no tempo de Marx era assim) para construir uma casa ou uma nova máquina ou termos um bife com batatas fritas num restaurante (tudo "coisas" necessárias ao processo global de produção, reprodução e acumulação – já nem falo de luxos como ouvir ópera ou ver uma série de marmanjos a correr atrás de uma bola...), para tudo isso, dizia, é preciso que milhares de coisas tenham acontecido antes. E de entre essas milhares de coisas umas foram actividades mais produtivas, outras foram menos. Nem o Monsieur de La Palice dizia uma coisa mais banal. Voltando à citação de Marx lá de cima. Por um lado diz-nos que é uma "ilusão" pensar que a actividade ou contributo do capital comercial seja produtiva (até ou sobretudo do ponto de vista do Capital), mas por outro lado a eventual não "metamorfose" (de todos bens produzidos) em dinheiro que possa regressar à esfera de produção sob a forma de investimentos representa uma "perda" ou "desperdício". Veja-se por exemplo: Páginas 252 do Volume 2 - Parte Dois ("The Turnover of Capital) – Capítulo 8 "Fixed Capital and Circulating Capital": "While capitalist production is marked by the waste of much material, there is also much inappropriate horizontal extension of this kind (partly involving a loss of labour-power) in the course of the gradual extension of a business, since nothing is done according to a social plan, but rather depends on the infinitely varied circumstances, means, etc., with which the individual capitalist acts. This gives rise to a major wastage of productive forces." Sublinhado aqui deste comentador... E cá temos uma reflexão extremamente reveladora de alguma faceta do pensamento de Marx. Ou seja, comparando o sistema capitalista realmente existente com um sistema idealizado em que não houvesse perdas, nem desastres, nem desperdícios. Mas voltando à questão, temos então que, por um lado, o objectivo base do Capital é a produção de mais-valias e a sua reconversão em novo capital (o processo de Acumulação). Temos depois que são consideradas "produtivas" (ou "trabalho produtivo") aquelas actividades (ou "trabalhos") que dão origem à produção de mais-valias. Mas temos depois que as actividades que preservam o "valor acrescentado" (ou reduzem a sua "desvalorização" ou "desperdício") são "improdutivas". Aparentemente até está certo... Na medida em que essas actividades não acrescentam nada ao que já vem de trás. Limitam-se a preservar, proteger, conservar. Mas vejamos. Um determinado processo produtivo é concebido (e posto a funcionar pelos engenheiros e operários) para produzir, por ano ou por mês (é irrelevante), 1000 unidades de "mais-valias". Em condições normais ou de "média ponderada" em relação ao resto da economia. Sucede que o sistema capitalista é pródigo em crises e sobressaltos. Sucede também que a Mãe Natureza de vez em quando atira-nos com umas catástrofes naturais tipo terramotos ou inundações. Seja como for aquele capitalista (ou outro qualquer) de vez em quando realiza 850 unidades de mais-valia, outras vezes realiza 960, outras ainda só consegue realizar 600. ? Não seria razoável pensar que toda e qualquer actividade que minimize "as perdas" e consiga que este nosso capitalista realize sempre ou quase sempre as tais 1000 unidades de mais-valia, seria também uma actividade "produtiva"?... O mais engraçado disto tudo é que "não é por aí que o gato vai às filhoses" (de desacreditar Marx, como pretendem os seus inúmeros adversários) e que Marx deixa de ter razão naquilo que é fundamental. A distinção entre "produtivo" e "improdutivo" (além do já aqui assinalado interesse heurístico) também serve – para mal dos nossos pecados – para que os nossos adversários e críticos radicais de Marx o procurarem descartar assinalando "erros" e "asneiras" perfeitamente secundários. Nada disto (desta distinção dicotómica) entre "produtivo" e "improdutivo" tem relevância para questões de facto fundamentais como será a "separação dos trabalhadores relativamente aos meios de produção" ou a distinção entre "trabalho" e "força-de-trabalho" ou ainda a "origem e natureza do lucro". [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |