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Subject: La France est malade | |
Author: Jorge Fiel |
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Date Posted: 20/03/06 12:07:00 ADORO a França. Considero-me uma espécie de filho adoptivo da sua cultura. Tenho o La Vie Théodore, de Alain Souchon, na aparelhagem da sala e ontem adormeci a ouvir o Kensington Square, de Delerm. O livro que tenho na mesinha de cabeceira é o Les Nouveaux Mystères de Paris, de Léo Malet, o passaporte para uma viagem no tempo até à Paris dos anos 50 e 60, vivida na pele do detective Nestor Burma. O meu museu favorito é o de Orsay e o De tanto bater o meu coração parou, de Jacques Audiard, está no «top» dos cinco melhores filmes que vi nos últimos anos. Para mim, luxo é tomar um pequeno almoço de «maccarons», «croissants», sumo de toranja e chocolate quente na Ladurée, da Madeleine. E uma tarde de sonho compreende compras de Banda Desenhada na Librairie Album (Quartier Latin), devorar de um fôlego a 2ª parte do Voo do Corvo, de Gibrat, sentado numa cadeira verde do Jardin du Luxembourg, beber uma cerveja numa esplanada da cinematográfica Place de la Contrescarpe, apreçar «reblochons» e «chèvres» nas queijarias da rue Mouffetard, e beber um chá num pátio da Mesquita de Paris. Dito isto, devo acrescentar que a França está gravemente doente, e que os sintomas já são muitos e variados. Foi a revolta dos excluídos dos subúrbios que escapou ao controlo das autoridades. É, agora, o patético levantamento dos estudantes contra uma tímida medida governamental que lhes favorece o acesso a um mercado de trabalho bloqueado. Com a actual legislação laboral, a França (tal como nós!) não vai a lado nenhum. Ao contratar alguém, um empresário fica algemado a um contrato desigual - o empregado pode despedir-se mas ele não o pode despedir - e mais forte e indissolúvel que os laços do matrimónio. Em Maio de 68, os estudantes eram revolucionários que queriam a imaginação ao poder, eram agentes da mudança, da destruição criativa que foi a marca de água do século XX - num longo caminho que começou nas artes, com a desconstrução das formas, feita pelos cubistas, e desaguou na subversão da moral burguesa, protagonizada pelos estudantes do Maio francês. Em 2006, os estudantes são conservadores que perseguem uma miragem ao exigirem do Governo Villepin a garantia de um emprego bom e para a vida. Os estudantes de 1968 eram netos dos «sans culottes» da Revolução Francesa e filhos da Comuna de Paris. Os estudantes de 2006 são jovens burgueses pançudos, que têm a pança no pior sítio - na cabeça. Esta França esclerosada de Le Pen, dos agricultores coléricos que não têm vergonha de viver à custa da PAC, dos estudantes rascas, esta França não é digna dos seus geniais antepassados, que inventaram a liberdade, a igualdade, a fraternidade - e também o Astérix, o champanhe e a «joie de vivre». [ Next Thread | Previous Thread | Next Message | Previous Message ] |
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