Subject: muit bem! |
Author:
paulo fidalgo
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Date Posted: 30/06/05 20:05:26
In reply to:
Fernando Penim Redondo
's message, "O Marxismo virou social-democracia ?" on 30/06/05 18:07:13
>O Marx deve estar às voltas no túmulo por causa deste
>artigo, inacreditável, do Aurélio Nunes.
>
>Marx disse, e muito bem, que o Estado é um
>"instrumento da dominação de uma classe sobre as
>outras classes" mas o Aurélio acha que não.
>
>Acha que os trabalhadores "impuseram ao Estado funções
>e obrigações que não lhe cabiam como instrumento de
>dominação do capital", ele pensa que o "Estado Social"
>é pago pelos capitalistas.
>
>Trata-se de um caso agudo de alienação relativamente à
>realidade e reflecte a rendição às ilusões da
>social-democracia. Marx exigia um mundo novo e não um
>capitalismo com SNS e escolas para todos.
>
>Aqueles que defendem o chamado “Estado Social” laboram
>num erro grosseiro: estão convencidos de que ele é
>pago pelos ricos a quem foi imposto pela justa luta
>das classes trabalhadoras.
>
>A verdade dos números é bem diferente: quem paga o
>“Estado Social” são os próprios trabalhadores já que,
>no conjunto, pagam muito mais em impostos e todo o
>tipo de contribuições, do que recebem do “Estado
>Social”.
>
>Nas últimas semanas, com a “zanga das comadres”, os
>jornais deram-nos abundante material para esboçar uma
>lista do destino que tem sido dado à diferença entre
>aquilo que os trabalhadores pagam ao Estado e aquilo
>que dele recebem:
>
>- Obras públicas que custam três ou quatro vezes mais
>do que o valor orçamentado (a Casa da Música, no
>Porto, é apenas o último e significativo exemplo)
>
>- Medicamentos e exames de diagnóstico comprados em
>excesso e por preços leoninos (em 2002 foram gastos
>pelo SNS nestes artigos 2.774 milhões de euros, ou
>seja 556 milhões de contos)
>
>- Ordenados exorbitantes de gestores de empresas
>públicas que os próprios se auto-atribuem (sempre
>acompanhados de uma miríade de complementos como
>cartões de crédito, seguros de vida, prémios de
>gestão, despesas de representação 14 meses por ano e
>outros)
>
>- Pensões de reforma cujos elevados montantes não têm
>qualquer correspondência com os descontos efectuados
>pelos beneficiários (o caso do Ministro das Finanças,
>reformado ao fim de seis anos de trabalho e com 48 de
>idade, é apenas um entre milhares).
>
>- As propinas escolares, o custo dos cuidados médicos
>e de todos os outros serviços prestados pelo estado
>aos estratos sociais ou profissionais cuja fuga ao
>fisco é encapotadamente tolerada (como é o caso da
>maior parte das profissões liberais e certos estratos
>do empresariado).
>
>- Os múltiplos ordenados dos “eleitos locais” obtidos
>nas empresas municipais por eles criadas
>
>- As subvenções mensais vitalícias e subsídios de
>reintegração atribuídas aos políticos.
>
>- As contribuições da República para os partidos
>políticos
>
>- Os ordenados dos funcionários públicos excedentários
>que, em muitos casos, foram admitidos apenas por serem
>filhos ou afilhados do “senhor Director Geral” quando
>não sobrinhos da porteira.
>
>- Os custos de serviços do Estado redundantes, ou
>mesmo prejudiciais, que não produzem nada de útil e
>até contribuem para empatar as iniciativas válidas.
>
>A lista podia ser muito mais longa mas estes casos
>bastam para configurar aquilo que podemos designar
>como uma exploração de segundo nível.
>Marx explicou a exploração como a apropriação pelos
>capitalistas da diferença entre o valor produzido e o
>montante dos salários mas não podia adivinhar que em
>pleno século XXI um segundo nível de exploração se
>viria sobrepor.
>
>O salário que os trabalhadores deveriam levar para
>casa é “assaltado” pelo IRS e pelas contribuições para
>a Segurança Social, quando metem gasolina ou compram
>tabaco, quando compram casa, quando vão ao
>supermercado, em suma, constantemente.
>Em muitos casos este segundo nível de exploração é
>ainda mais intenso do que a exploração convencional.
>
>Os beneficiários desta exploração são:
>
>- os industriais, comerciantes e prestadores de
>serviços que vendem leoninamente ao Estado, com a
>conivência dos compradores ou beneficiando do desleixo
>e da desorganização
>
>- Os altos funcionários da Administração Pública (são
>6.960) e das Empresas Públicas (são 461)
>
>- Os estratos sócio/profissionais tacitamente
>“dispensados” de pagar impostos
>
>- Os políticos no activo, os que já foram, e todos os
>acólitos que frequentam os partidos à babugem dos
>favores.
>
>Estes grupos interpenetram-se e os seus elementos vão
>passando continuamente de uma condição para outra não
>havendo memória de qualquer penalização por mau
>desempenho. Os favores trocados e os lobbies de
>interesses mantêm-se na penumbra e a coberto das
>instituições formais que baseiam a sua legitimidade no
>sistema democrático.
>
>Configuram uma casta que se apoderou da nossa
>democracia e que, pelos seus erros e cupidez, acabará
>por a destruir.
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